Nubank aposta em nova estratégia para revolucionar mercado de investimentos no Brasil
Com apenas R$ 4 bilhões sob gestão, banco digital busca se reinventar no mercado financeiro através dos fundos de índice, mirando uma transformação semelhante à que provocou no setor bancário
O Nubank, gigante do setor financeiro digital que revolucionou o mercado bancário brasileiro, enfrenta agora seu maior desafio: se tornar relevante no competitivo mercado de investimentos. Após quase cinco anos da aquisição bilionária da Easynvest, a gestora do banco, rebatizada como NuAsset, administra apenas R$ 4 bilhões e conta com 1,5 milhão de cotistas, números modestos para uma instituição que possui mais de 100 milhões de clientes.
Para mudar este cenário, a fintech elegeu os ETFs (Exchange-Traded Funds) como carro-chefe de sua estratégia de crescimento. A escolha não é por acaso: estes fundos de índice são conhecidos globalmente por oferecerem custos mais baixos e maior transparência aos investidores, características que se alinham com o DNA disruptivo do Nubank.
Sob a liderança de Andrés Kikuchi, CIO e head da NuAsset, o banco já lançou cinco ETFs desde 2023, incluindo produtos focados em dividendos como o Nu Renda Ibov Smart Dividendos (NDIV11) e o Nu Ibov Smart Dividendos (NSDV11). A aposta nos ETFs ganha força com a nova resolução CVM 179, que exige maior transparência na venda de produtos financeiros e favorece modelos de negócio baseados em eficiência de custos.
O timing parece favorável: nos Estados Unidos, os ETFs já representam cerca de 50% do volume sob gestão em fundos, enquanto no Brasil esse percentual é de apenas 0,5%. A BlackRock, maior gestora global, possui impressionantes US$ 4,23 trilhões alocados nesta classe de ativos, demonstrando o potencial de crescimento deste mercado no Brasil.
Apesar do otimismo, os números atuais ainda são tímidos. Dos 586 mil investidores de ETFs no Brasil, apenas 25 mil investem nos produtos do Nubank, que administra R$ 120 milhões de um mercado de R$ 54 bilhões. Para acelerar este crescimento, a NuAsset prepara o lançamento de um fundo de ações aberto focado em ETFs, com taxa de administração de 1% e sem taxa de performance.
O mercado tem observado um movimento crescente de outras instituições neste segmento, como Oryx, Buena Vista e Investo, além dos bancos tradicionais que começam a atuar com mais intensidade nesta área. A competição promete ser acirrada nos próximos anos.
Paralelamente à aposta em ETFs, o Nubank tem reduzido seu portfólio de produtos e funcionalidades desde a integração da Easynvest. A decisão de descontinuar o homebroker e remover produtos como debêntures, CRIs e CRAs da plataforma gerou insatisfação entre investidores mais sofisticados.
O banco justifica as mudanças como parte de uma estratégia para tornar a experiência "mais simples e prática", mas críticos apontam que esta simplificação pode estar custando a fidelidade de clientes que buscam opções mais avançadas de investimento.
A resolução CVM 179 surge como um catalisador importante para a estratégia do Nubank. A nova regulamentação, que exige maior transparência nas comissões cobradas por produtos financeiros, pode favorecer os ETFs, conhecidos por suas taxas mais baixas e estrutura transparente de custos.
O modelo fee-based de remuneração, que vem ganhando espaço no mercado brasileiro, alinha-se perfeitamente com a proposta dos ETFs, podendo impulsionar sua adoção por assessores e consultores financeiros.
Com uma avaliação de mercado superior a US$ 64,6 bilhões na Bolsa de Nova York, o Nubank mantém sua ambição de transformar o mercado financeiro. A aposta em ETFs representa uma tentativa de replicar, no mercado de investimentos, o sucesso alcançado no segmento bancário.
O desafio é considerável: o mercado brasileiro ainda está em estágio inicial de adoção dos ETFs, e a competição se intensifica com a entrada de novos players. O sucesso desta estratégia dependerá da capacidade do Nubank em educar seus clientes sobre as vantagens dos ETFs e manter sua proposta de democratização dos investimentos.
Indicador | Nubank | Mercado Total |
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Ativos sob Gestão em ETFs | R$ 120 milhões | R$ 54 bilhões |
Número de Investidores em ETFs | 25 mil | 586 mil |
Total de Clientes | 100 milhões+ | N/A |